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15 de fevereiro de 2019

Resenha: Asiáticos Podres de Ricos, de Kevin Kwan

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Autor: Kevin Kwan
Editora: Record
490 Páginas

Sinopse: Quando Rachel Chu chega a Cingapura com o namorado para o casamento de seu melhor amigo, imaginava passar dias tranquilos com uma simpática família. Só que Nick não mencionou alguns detalhes, como o fato de sua família ter muito, muito dinheiro, que ela viajaria mais em jatinhos particulares do que de carro e que caminhar de mãos dadas com um dos solteiros mais ricos da Ásia era como ter um alvo nas costas. Logo, Rachel percebe que não será poupada das fofocas e intrigas. Isso sem falar na mãe de Nick, uma mulher com opiniões bem fortes sobre com quem o filho deve – ou não – se casar. Um passeio pelos cenários mais exclusivos do Extremo Oriente – das luxuosas coberturas de Xangai às ilhas particulares do mar da China Meridional –, Asiáticos Podres de Ricos é uma visão do jet set oriental por dentro. Com seu olhar satírico, Kevin Kwan traça um retrato engraçadíssimo do conflito entre os novos-ricos e as famílias tradicionais em seu romance de estreia, que já fez milhares de leitores chorarem de tanto rir no mundo todo. Compre o livro aqui.
Rachel Chu é uma professora universitária de Nova York que namora o charmoso Nicholas Young, também professor universitário. Os dois vivem um relacionamento quase perfeito que já caminha para os dois anos de namoro. É quando Nick é convidado para ser padrinho de casamento de seu melhor amigo Colin, que ele vê a oportunidade de levar a namorada para ir com ele para Cingapura e conhecer sua família, além de passar as férias aproveitando as maravilhas do país. Até ai nenhum problema, certo? Acontece que Nick nunca mencionou nada sobre sua família ou fato dele ser podre de rico: o herdeiro de uma das famílias mais tradicionais de Cingapura. Como Rachel, que vive uma vida simples em Nova York, vai lidar com toda essa situação?
- Não faço a menor ideia de quem essas pessoas são. Mas uma coisa eu posso garantir: essa gente é mais rica do que Deus.
Para começar, eu assisti primeiro o filme - e amei! - portanto, eu estava esperando algo parecido com filme, uma comédia romântica fofinha, que deixa você suspirando pelo protagonista maravilhoso, então confesso que levei um susto quando comecei a ler o livro. Logo de cara você é apresentado a duas árvores genealógicas sobre a família do Nick, que a princípio você pode pensar "Para que eu preciso disso?" ou até "Isso não deve ser muito importante". Acreditem, é importante sim. Por que? Porque nesse livro há muitos personagens, são muitos nomes e parentescos, que até você se acostumar com eles, você vai ficar um pouco perdido, de quem é quem e de quem é relacionado com quem, e portando a árvore genealógica ajuda muito nesse quesito.
Asiáticos Podres de Ricos
Outra coisa que me surpreendeu foi a narração que é feita em terceira pessoa (e é bem descritiva!), portanto cada capítulo tem o ponto de vista de um personagem diferente. Devido a isso, você pode demorar um pouco para achar um ritmo de leitura no começo, mas não desanime!! A leitura começa a ficar mais fluída e fácil do meio para o fim.
Asiáticos Podres de Ricos
Asiáticos Podres de Ricos, de Kevin Kwan | Foto: Nicole Oliveira
Eu gostei muito da ideia do livro, pois não é um assunto comum, o que instiga você a continuar a ler, já que é uma realidade totalmente diferente da nossa, meros mortais da classe trabalhadora. Tudo para eles é tão ao extremo que às vezes chega a ser ridículo.
Havia acabado de comprar um anel de diamante de 350 mil dólares de que não gostara tanto, uma pulseira de 28 mil dólares que lhe agravada bastante e um par de brincos de 784 mil dólares que a deixava parecida com a Pocahontas. Pela primeira vez em semanas, sentia-se incrível.
O autor vai a fundo em como essa sociedade é conservadora, tendo preconceito até com os seus. É uma cultura onde um casamento perfeito vale mais para uma mulher do que uma carreira de sucesso; e suportar as traições do seu marido não é nada se comparado ao escândalo que seria pedir um divórcio.
"Eu tenho sorte. Tenho muita sorte. Não seja tão burguesa. É só um casinho de nada. Não faça tempestade em copo d'água. Lembre-se, graça mesmo sob pressão. Graça mesmo sob pressão."
Quanto aos personagens, cada um tem sua particularidade, mas gostaria de destacar alguns que tiveram um maior impacto no livro: Rachel, que podemos considerar a protagonista, já que a maioria da trama gira em torno dela, é uma personagem bem carismática e divertida, os capítulos com o ponto de vista dela foram alguns dos meus preferidos, pois assim como nós ela ainda está descobrindo sobre como funciona essa vida de luxo; o Nick me encantou no começo por ele se preocupar bastante com a Rachel e não se importar muito com o dinheiro como sua família, mas o fato dele a ter lançado nesse meio sem nenhum aviso prévio e achar que tudo ficaria bem me incomodou bastante; Eleanor, mãe de Nick, é uma megera das grandes! Essa mulher não mede esforços para conseguir controlar a vida do filho, sendo capaz de ir bem baixo para conseguir o que quer e por mais que você a odeie, é instigante ver até onde ela vai para conservar o "pedigree" da família; Astrid, prima de Nick, tem uma trama muito atraente e que, por diversas vezes, roubou minha atenção da história "principal" de Rachel e Nick - ela é uma das personagens que mais se desenvolveu ao longo do livro.
Trinta segundos depois de saber o nome dela e onde morava eram o bastante para Eleanor pôr em ação seu algoritmo social e calcular precisamente o local que a mulher ocupava em sua própria constelação, com base em quem eram seus parentes, qual o seu valor liquido aproximado, a origem de sua fortuna e quais escândalos familiares teriam ocorrido nos últimos cinquenta anos.
Algo que foi difícil para me acostumar no começo foi o grande número de palavras e expressões em outros idiomas que o autor utiliza. Há notas de rodapé com a tradução/significado, no entanto é quase impossível você lembrar o que determinada palavra significa quando ela é usada novamente mais para frente no livro. Creio que teria sido interessante, além das notas de rodapés, se houvesse um glossário no final do livro para você poder consultar os significados de maneira mais rápida e prática. Então se você não tem uma boa memória como eu, sugiro que você marque o significado quando aparecer alguma expressão que você perceba que será recorrente no decorrer da história, assim você não perderá tempo procurando o significado na internet ou nas páginas anteriores do livro.
- Dá para acreditar? Alamak, a filha de uma mãe divorciada de uma família ulu sem nome nenhum! Eu vou tiao lau!
Asiáticos Podres de Ricos é um livro com um enredo muito interessante e divertido, que demanda um pouco de paciência no começo, mas que vale a pena a leitura. Estou animada para saber o que acontecerá com os personagens no segundo livro, Namorada Podre de Rica, que será lançado esse mês pela editora Record.

Foca na Leitura! 

8 de fevereiro de 2019

Resenha: O Caçador de Pipas, de Khaled Hosseini

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Autor: Khaled Hosseini
Editora: Nova Fronteira 
365 Páginas

Sinopse: O Caçador de Pipas é considerado um dos maiores sucessos da literatura mundial dos últimos tempos. Este romance conta a história da amizade de Amir e Hassan, dois meninos quase da mesma idade, que vivem vidas muito diferentes no Afeganistão da década de 1970. Amir é rico e bem-nascido, um pouco covarde, e sempre em busca da aprovação de seu próprio pai. Hassan, que não sabe ler nem escrever, é conhecido por coragem e bondade. Os dois, no entanto, são loucos por histórias antigas de grandes guerreiros, filmes de caubói americanos e pipas. E é justamente durante um campeonato de pipas, no inverno de 1975, que Hassan dá a Amir a chance de ser um grande homem, mas ele não enxerga sua redenção. Após desperdiçar a última chance, Amir vai para os Estados Unidos, fugindo da invasão soviética ao Afeganistão, mas vinte anos depois Hassan e a pipa azul o fazem voltar à sua terra natal para acertar contas com o passado. Compre o livro aqui.
"Por você, faria isso mil vezes!". "Por você, faria isso mil vezes!". Essa frase ficou ecoando na minha cabeça muitas horas depois de eu ter terminado O Caçador de Pipas e até no dia seguinte. Por quantas pessoas você faria algo mil vezes ou, por quais pessoas você faria algo mil vezes? 
Leia também: Resenha: Maus - A História de um Sobrevivente, de Art Spiegelman
Hassan pegaria a última pipa azul do glorioso campeonato de pipas que Amir, seu melhor amigo, venceu. Afinal, os dois são praticamente irmãos: brincam juntos, sobem em árvores juntos, vão comprar comida juntos, conversam bastante... Mas, como nem tudo são flores, também há algo que os separa: os dois moram em Cabul, no Afeganistão, mas são de etnias diferentes. Enquanto Amir é um pashtun, rico, bem-nascido e com escolaridade boa, Hassan é só um hazara pobre e simples que não sabe ler nem escrever.
Ao mesmo tempo, Hassan é sincero, intuitivo e corajoso, enquanto Amir é covarde, muito exigente consigo mesmo e está sempre procurando a atenção e aprovação do pai, que parece muito mais preferir Hassan.  

Mas, logo depois do campeonato de pipas, algo acontece e muda para sempre a relação dos dois. De uma hora para outra, Amir fica grosseiro, estúpido, ingrato e cruel com Hassan, que não sabe mais o que fazer para poder voltar a brincar com o amigo. A invasão soviética ao Afeganistão também não ajuda em nada e faz com que o Amir e o pai achem uma oportunidade de se mudarem para os Estados Unidos, separando de vez a relação dos dois. 

Entretanto, o passado sempre nos cobra novas atitudes e Amir, muitos anos depois, recebe uma ligação e se vê obrigado a voltar à sua terra natal para rever suas contas, pois sempre "há um jeito de ser bom de novo". Porém, quando isso acontece, o pais já está devastado pelo governo do Talibã, que quer "purificar" o povo. Mesmo em meio há tantas mudanças, Amir encontra formas de fazer o melhor que pode com o que ainda tem. 
"Não é verdade o que dizem a respeito do passado, essa história de que podemos enterrá-lo. Porque, de um jeito ou de outro, ele sempre consegue escapar". - Pág. 09.
O Caçador de Pipas, de Khaled Hosseini | Foto: Luiza Lamas
De uns tempos para cá, percebi uma certa inclinação minha em gostar mais dos personagens coadjuvantes do que do principal e com esse livro não foi diferente. Nossa, como eu queria abraçar Hassan o tempo inteiro enquanto lia a história e dizer que em algum momento a vida iria melhorar! Falar que Amir é cruel com ele eu acho até pouco, apesar de os dois serem amigos. De vez em quando, o menino lê para Hassan, mas zomba dele quando pergunta sobre uma palavra nova e desafia a sua lealdade o tempo inteiro, questionando, por exemplo, se Hassan comeria cocô por ele. 

Durante a história, somos convidados a acompanhar toda a vida de Amir nos Estados Unidos e esse foi o meu único porém com a história. Para mim, essa parte ficou um tanto quanto extensa e achei que em alguns momentos ela poderia ter sido reduzida. Mesmo assim, isso de maneira nenhuma é algo que te faz cansar da história. 

Aliás, mesmo com tantas reviravoltas, Khaled soube costurar e amarrar a história de um jeito maravilhoso. Eu ficava o tempo todo entre "não quero ler o livro porque estou com medo do que vai acontecer com os personagens" e "meu deus, preciso continuar a ler, porque quero saber o que acontece depois". Quando o clímax aconteceu, não consegui mais parar de ler. 

Apesar de o pano de fundo da narrativa ser conflitos políticos, sociais e guerra, saiba que falar sobre esse assunto não é, de longe, o propósito da história. O Caçador de Pipas é sobre culpa, amor, perdão e, acima de tudo, redenção: sobre fazer o melhor que se pode com o que ainda se tem, perdoar aos outros pelos erros e, sobretudo, perdoar a si mesmo. 
"Existe apenas um pecado, um só. E esse pecado é roubar. Qualquer outro é simplesmente uma variação do roubo. Quando você mata um homem, está roubando uma vida. Está roubando da esposa o direito de ter um marido, roubando dos filhos um pai. Quando mente, está roubando de alguém o direito de saber a verdade. Quando trapaceia, está roubando o direito à justiça". - Pág. 25 e 26. 
Um beijo e foca na leitura! 

1 de fevereiro de 2019

Resenha: Mãe em Construção, de Lu Menezes

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Mãe em Construção, de Lu MenezesAutora: Lu Menezes
Editora: Simonsen
160 Páginas


Sinopse: O inesperado sempre acontece: Gabi, uma workaholic assumida, é surpreendida por uma gravidez não planejada - situação que põe em frangalhos sua vidinha autocentrada. É hora de lidar com uma nova dinâmica familiar, que envolve um "namorido" dependente e pueril, uma sogra pestilenta, cunhadas manipuladoras e um universo paralelo regido pelas leis arbitrárias da maternidade. Como se não bastasse, ainda há os três filhos e a rotina de empresária, que ela toca entre tarefas escolares, viroses, entregas de obra e algum sexo eventual, quando Deus dá um refresquinho.
Prepare-se para gargalhar e se identificar com a vida de Gabi - que também é a nossa vida, pode ter certeza.
Mãe em Construção é um romance nacional muito divertido e descreve a rotina conturbada e maluca da arquiteta Gabriela, uma mulher independente e vidrada em trabalho que descobre uma gravidez não planejada com o namorado Zé que, de uma hora para outra, está cada vez mais frequentando a casa dela, levando seus pertences para lá e ocupando um espaço que não é seu. 
Leia também: Resenha: Vidas Muito Boas, de J.K. Rowling

Como lidar com esse choque de realidade? Afinal, Gabi não queria filhos, muito menos a interferência do agora "namorido" em sua vida. Além disso, ela também não sabe nada sobre maternidade e ainda tem que lidar com as opiniões e interferências da família de ambas as partes (sogra e cunhada) sobre como ela deve se portar como mãe e o que deve fazer. 

Na obra, você acompanha como Gabriela lidou com o primeiro filho, Pedro, e com os outros dois que vieram depois. Descobre, por meio de uma linguagem divertida e única que a autora Lu Menezes conseguiu colocar no livro, como se adaptou ao fato de trabalhar muito, ser mãe e ter como companheiro uma pessoa extremamente folgada. E claro, como ela se deu conta de que no final, mesmo que tudo não aconteça como planejamos durante o crescimento das crianças, vale a pena passar por trancos e barrancos, pois saímos deles sempre melhores. 
Mãe em Construção, de Lu Menezes
Mãe em Construção, de Lu Menezes | Foto: Luiza Lamas
O primeiro ponto que eu gostaria de observar sobre esse livro é a grande sacada do nome. Gabriela, ao mesmo tempo que é uma arquiteta, é uma mãe em construção. Segundo, que personalidade incrível a dessa mulher. Muito resiliente, está pronta para atender a todos o tempo inteiro (mesmo que isso lhe dê muita raiva e vários períodos de desabafo).  

Agora, a verdade é que o mesmo não pode se dizer do Zé, o "namorido" dela. É certo que ele a ouve bastante e a compreende, mas não ajuda em quase nada na rotina maternal, escolar e de crescimento dos filhos (o que é de se esperar e de se obrigar de todo pai que se preze). 

Para mim, a virada do livro aconteceu (e aí eu soube que realmente achara ele bom), quando o filho mais velho começa a namorar e Gabriela passa a sentir muito ciúmes da quase nora, a ponto de competir com ela em quem verá ele primeiro, agora que está fazendo faculdade nos Estados Unidos. Foi nesse momento que deu para perceber como a personalidade da mãe foi se transformando ao longo do livro, já que no começo não queria ter filhos e, depois não quer dividi-los com ninguém. 

Recomendo o livro para aqueles que estão à procura de uma leitura leve e divertida e para aquelas que são (ou pretendem ser) mães. Com certeza, em algum momento, você vai se identificar com a personagem principal da história. 

24 de julho de 2018

Resenha de HQ: Maus - A História de um Sobrevivente, de Art Spiegelman

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Autor: Art Spiegelman
Editora: Quadrinhos na Cia. (Companhia das Letras)
296 Páginas 

Sinopse: Maus ("rato", em alemão) é a história de Vladek Spiegelman, judeu polonês que sobreviveu ao campo de concentração de Auschwitz, narrada por ele próprio ao filho Art. O livro é considerado um clássico contemporâneo das histórias em quadrinhos. Foi publicado em duas partes, a primeira em 1986 e a segunda em 1991. No ano seguinte, o livro ganhou o prestigioso Prêmio Pulitzer de literatura. A obra é um sucesso estrondoso de público e de crítica. Desde que foi lançada, tem sido objeto de estudos e análises de especialistas de diversas áreas - história, literatura, artes e psicologia. Em nova tradução, o livro é agora relançado com as duas partes reunidas num só volume. 
Nas tiras, os judeus são desenhados como ratos e os nazistas ganham feições de gatos; poloneses não-judeus são porcos e americanos, cachorros. Esse recurso, aliado à ausência de cor dos quadrinhos, reflete o espírito do livro: trata-se de um relato incisivo e perturbador, que evidencia a brutalidade da catástrofe do Holocausto. 
Spiegelman, porém, evita o sentimentalismo e interrompe algumas vezes a narrativa para dar espaço a dúvidas e inquietações. É implacável com o protagonista, seu próprio pai, retratado como valoroso e destemido, mas também como sovina, racista e mesquinho. De vários pontos de vista, uma obra sem equivalente no universo dos quadrinhos e um relato histórico de valor inestimável. 

"Maus é um livro que ninguém consegue largar. Quando os dois ratos falam de amor, você se emociona; quando eles sofrem, você chora." - Umberto Eco. 

"Um triunfo modesto, emocionante e simples - impossível descrevê-lo com precisão. Impossível realizá-lo em qualquer outro meio que não os quadrinhos." - Washington Post. 

"Uma história épica contada em minúsculos desenhos." - New York Times. 

"Uma obra de arte brutalmente tocante." - Boston Globe. Compre o livro aqui.
Maus - A História de um Sobrevivente conta a história de Vladek Spiegelman, sobrevivente judeu polonês do Holocausto, que passou pelos campos de concentração de Auschwitz (Polônia) e Dachau (Alemanha). O relato é feito pelo próprio pai e desenvolvido pelo filho, Art Spiegelman, em uma HQ de traços fortes e escuros, assim como foi esse período sombrio e horroroso da história do mundo. Na narrativa, judeus são retratados e desenhados como ratos (maus em alemão, daí o nome da HQ), alemães como gatos, poloneses não-judeus como porcos e americanos como cachorros. 

A história mescla entre momentos do passado e presente e começa com o filho de Vladek tentando convencer o pai a falar sobre tudo o que viveu. No início, descobrimos que a família da ex-esposa de Vladek (e mãe de Art) era rica, por isso, a fome e miséria demoraram um pouco a chegar para eles. Mas, aos poucos, todos percebem que judeus estavam sendo cada vez mais reprimidos e as condições pioram muito quando eles são obrigados a irem viver em guetos e depois são mandados para Auschwitz. 

Maus, de Art Spiegelman | Foto: Luiza Lamas
Particularmente, me interesso muito pela temática da 2ª Guerra Mundial e do Holocausto, então já tive contato com outras obras sobre o assunto, como O Menino do Pijama Listrado (resenha aqui), O Diário de Anne Frank (resenha aqui) e o que mais me impactou até o momento, O Menino da Lista de Schindler (resenha aqui), então, o tema em si não foi novidade para mim (e acredito que não seja para muita gente). O diferencial que reconheci em Maus foi a forma que o autor escolheu para contar a história. 

A alternância entre passado e presente permitiu que o leitor conhecesse um pouco mais sobre a personalidade de cada personagem e como eles lidavam com os conflitos sociais e familiares que surgiam. O mais extraordinário é que Art não excluiu suas angústias de escritor e de filho ao desenvolver a obra. Em um dado momento, ele comenta com a esposa que se acha incapaz de continuar a escrever Maus, porque nunca conseguirá entender como viver durante o Holocausto. 

Ao mesmo tempo, não deixa de fora a raiva e rancor que sente pelo pai (durante a HQ inteira dá para perceber que Art tinha relações muito melhores com a mãe) e isso fica explícito em uma cena em que Vladek quer devolver uma caixa de cereal aberta ao mercado, porque não quer jogar a comida fora (consequências trazidas pela guerra, em que viveu na miséria). 


Maus, de Art Spiegelman | Pág. 238
Outra parte interessante retratada por Art acontece no momento presente, depois da guerra, quando um rapaz negro questiona se pode receber uma carona e Vladek fica espantado e muito enraivecido porque o filho e a nora aceitaram o pedido, justamente porque o menino era negro e eles não deveriam se misturar. Quer dizer, mesmo Vladek tendo sofrido nas mãos dos alemães por ser judeu, ele não consegue enxergar a forma como está sendo racista e incoerente. 

Maus - A História de um Sobrevivente foi vencedora do prêmio Pulitzer (um dos mais conceituados no jornalismo e na literatura), no ano de 1992, na categoria "Prêmio Especial Pulitzer", inaugurada pela própria narrativa. Até hoje, nenhuma outra história em quadrinhos ganhou o prêmio. 

Há uma outra obra também escrita por Art Spiegelman chamada MetaMaus, em que o autor detalha a criação da narrativa de Maus e disponibiliza ilustrações, entrevistas, notas e esboços para complementar o que é retratado na HQ. O livro não foi traduzido para o português.

Um beijo e foca na leitura!

22 de julho de 2018

Um ponto de partida para a valorização da literatura nacional - 3º Encontro "Romanceando" (SP)

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Olá, pessoal, como vocês estão? 
Hoje eu queria contar para vocês sobre o mais recente evento literário que fui e também comentar sobre a importância de comparecer a esse tipo de iniciativa

O Romanceando aconteceu no Sofá Café, em Pinheiros, e foi organizado pelas autoras Carol Cappia (que escreveu Fragmentos*Reaprendendo a amar: uma nova chance para a vida*), Julia Fernandes (série Angels*) e R.M. Cordeiro (Por Ela & Para Ele*, Como chegamos até aqui?* e Tinderela: A Procura do Amor na Era Digital*). 

O assunto principal, obviamente, foram os romances. Comentamos sobre nossas histórias de amor preferidas, os melhores casais, demos e recebemos diversas indicações de livros legais (inclusive os das próprias autoras organizadoras) e discutimos o que não pode faltar em uma narrativa romântica. 

O andar de cima do café foi todo reservado para nós. Apesar de ser um espaço pequeno, foi interessante porque todo mundo ficou próximo um do outro e acho que isso criou uma espécie de aconchego e fez com que ficássemos mais a vontade (pelo menos eu estava). É diferente de quando vamos a um evento em que os escritores ficam no palco e nós somos espectadores, de longe. 

Não posso deixar de comentar sobre um fato que fiquei matutando desde ontem, quando saí de lá. Poucas pessoas compareceram. Acho que umas quinze, no máximo. Reparei que de blogueiros, tinha eu e mais uma menina, a Lari, do Lariteratura, que conheci naquele dia mesmo. 

Acho que precisamos nos atentar à ideia de que se a gente não comparece aos eventos sobre assuntos que gostamos, eles não acontecem mais, justamente porque não há procura. Sempre ouço a Tamirez, do Resenhando Sonhos, falando isso, mas nunca tinha me dado conta de verdade. Outro dia ela postou uma história no Instagram em que estava num evento de romances de época, gênero que praticamente não lê. Mas ela estava ali e ver aquilo deu um start em mim sobre minhas ações e queria alertar vocês também. 

Se nós, blogueiros, responsáveis por produzir conteúdo literário, não apoiamos autores nacionais em eventos e iniciativas do tipo, como vamos fazer para que as histórias deles cheguem aos leitores, que são quem realmente importa? Como vamos incentivar os leitores a continuarem apoiando a literatura nacional, se nós não conhecemos boa parte dela? 

Sugiro um exercício: pense em um tema que você goste de ler sobre. Agora pense em um livro estrangeiro sobre essa temática que você gostou muito. Depois, vá e procure por livros nacionais que falem sobre isso. Eu gosto muito de temas fortes, que me fazem pensar. A Pam Gonçalves escreveu Boa Noite, que fala sobre abuso sexual. Amanda Ághata Costa tem um livro que retrata a violência doméstica chamado Nunca Olhe Para Dentro. Bel Rodrigues vai lançar 13 Segundos, na Bienal do Livro de São Paulo, cujo assunto é pornografia de vingança. 

Acho ótimo que gostemos de autores como Jennifer Brown, John Green e diversos outros escritores estrangeiros, mas é importante saber que aqui no Brasil também existem outras Jennifers e Johns, basta olhar e dar visibilidade a eles. Então, depois dessa Bíblia, o meu conselho é: frequentem a maior quantidade de evento que vocês puderem. Compareçam a clubes de leitura, encontros de leitores, sessões de autógrafo, Bienais e etc. Vão lá e deem um abraço nos autores que vocês mais admiram. Apesar de isso não pagar o pão de cada dia, às vezes vale mais do que dinheiro. 

Queria muito saber a opinião de vocês sobre esse assunto, porque faz tempo que queria falar sobre isso, mas não achava a oportunidade, então me deixem um comentário aí embaixo ou me chamem nas redes sociais para conversarmos. Me digam também se vocês gostam sobre esse tipo de post, porque posso fazer mais, com outras temáticas. 

*ao clicar nestes links, você será redirecionado para a página do livro na Amazon. Ao comprar através deles, você ajuda a manter o blog, já que ganharemos uma pequena comissão de retorno. 

Um beijo e foca na leitura!